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domingo, 17 de novembro de 2013

A Sul da Fronteira, A Oeste do Sol

Aqui está mais um terminadinho. Encontrei tanta coisa que poderia referir no momento de opinar, que pela primeira vez peguei no bloco de notas e fui apontando tudo. Aviso que esta opinião vai ser longa.

Começo por referir que notei uma coisa muito curiosa nos livros do Murakami. Por exemplo, neste livro, quando começamos a ler, damo-nos conta que se trata apenas de um dos personagens a relatar factos da sua vida (desde a infância até à idade adulta). E o relato prolonga-se ao longo de quatro, cinco, seis capítulos sem que se perceba qual é o objectivo da história. Se fosse outro escritor a fazer isto, o mais certo seria acabar por me aborrecer e por o livro de lado. No entanto isso não aconteceu. Continuei a ler com entusiasmo e curiosidade, mesmo quando a história não revelava nada de especial.  Porque será? A sério, pergunto mesmo: porquê? Será somente aquela expectativa de estar a ler um livro do Murakami e já estar à espera que algo de fantástico acabe por acontecer? Ou será que o senhor escreve tão maravilhosamente bem (e de uma forma tão simples) que nos consegue prender ao livro, mesmo quando nos fala sobre a coisa mais banal do mundo? Dei por mim já a meio do livro (ainda não tinha chegado a nenhum desenvolvimento em concreto) a pensar sobre isto.

A história em si é semelhante a tantas outras, feita de paixões, mudanças, encontros e desencontros. Nada de novo no mundo do Murakami a que já estamos habituados. O personagem principal, Hajime, conta-nos como conheceu a sua melhor amiga, Shimamoto, e como se apaixona por ela quando tinham apenas 12 anos. Com o tempo acabam por se afastar, por terem que seguir escolas diferentes, e Hajime continua relatar a sua vida, desde que vai para a universidade de Tóquio, namora com outras raparigas, casa, monta o seu negócio, tem filhos e, passado muitos anos, até que volta a encontrar Shimamoto. Julgo que é aqui que se pode considerar que começa realmente a história. 

Não sei se viram as Assembleias de Bruxas que eu e a Su fizemos há uns meses dedicadas exclusivamente ao Murakami, mas fiquei com a sensação que poderíamos agora completar as nossas ideias ainda melhor. Tal como referimos na altura, também neste livro encontrei muitas semelhanças com outros livros do autor. Vou enumerar algumas, para ser mais simples:
  • Ambos os protagonistas tinham uma paixão por livros, gatos e música jazz. Tal como acontecia em Norwegian Wood, passavam muito tempo juntos a ouvir discos de jazz ou música clássica. 
  • Achei curioso que os romances que os personagens costumam ler são normalmente clássicos, cujos  autores já morreram há muito tempo. Em Norwegian Wood também havia esta referência. Será alguma critica do autor à literatura de hoje em dia?
  • Hajime torna-se dono de um clube de jazz onde aparece todas as noites para ouvir música, beber alguma coisa e conversar com os clientes. Mais uma vez é como se o próprio Murakami entrasse na história. 
  • Paixões que despertam na infância e que duram na idade adulta. Há uma cena em que Shimamoto pega na mão de Hajime e a sensação do seu toque fica gravada na palma da sua mão. Fez-me lembrar o Tengo e a Aomame. 
  • Durante o tempo em que esteve na universidade, Hajime participa em manifestações politicas. Esta também é uma referência ao autor que, no seu tempo também fez parte das manifestações dos estudantes. Só descobri este facto ao ler este livro, mas lembrei-me que em Norwegian Wood também se fazia referência às mesmas manifestações, no entanto, Toru mantinha-se à parte.
Estes são apenas alguns dos pontos que anotei. Tinha aqui mais, mas só vou tornar o post ainda mais longo e assim deixo o resto para descobrirem. 

Outro aspecto que sinto que é interessante abordar é a referência a filhos únicos. Isto porque também eu sou filha única e notei algumas semelhanças com o personagem principal. Aparentemente, no Japão dos anos 50, ser filho único era uma excepção à regra. Hajime cresce a odiar a expressão "filho único" porque faz com que seja automaticamente julgado por mimado e mal educado e egoísta. Também já levei com estas conversas. Em termos de personalidade, Hajime é reservado, tem tendência para se isolar, gosta de desportos individuais, sente necessidade de estar só, reflecte bastante antes de agir, entre outras características. O Murakami sabia o que é ser filho único quando criou este personagem. Gostei que tivesse sido tão fiel à personalidade típica de um filho único.

Quanto ao final da história, mais uma vez fica em aberto, apesar de não ser tão confuso como o Sono ou o Sputnik, Meu Amor. Deu para ficar com uma ideia do que poderá ter sido o final da história. Como poderão ver ao lerem o livro, a vida de Hajime transforma-se num furacão a partir do momento em que Shimamoto volta a aparecer em cena. Aqui sim, acontecem coisas inexplicáveis (que não vou contar). Mas ao chegar ao fim da história só posso concluir que Hajime ficou louco ou então terá vivido uma vida paralela onde Shimamoto existia. Isto porque ele refere algumas vezes que tem a sensação que o corpo não lhe pertence e que parece estar a viver a vida de outra pessoa.

Em suma, gostei muito e recomendo. Continuo a ter como favorito o Norwegian Wood, mas este não lhe ficou muito atrás.
Por fim deixo as músicas que me acompanharam na leitura (isto também é importante!). A primeira é a música que os dois personagens mais gostavam de ouvir e a segunda era tocada todas as noites no bar como uma cortesia a Hajime, por parte da banda. Gostei muito das duas. 




Para mais informações acerca do livro podem consultar aqui!

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