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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Assembleia de Bruxas #4

A Assembleia que partilho hoje com vocês tem vindo muito à baila nos últimos tempos. Raro é o dia em que eu e a Su nos juntamos que não se fale das semelhanças entre os livros do Murakami que temos lido até ao momento. E de todas as vezes nos lembramos de mais uma ou outra semelhança que não nos ocorreu ao inicio.
Até ao momento, ambas lemos os mesmos livros do Murakami (ainda que por ordens diferentes):
  • Sputnik, meu amor
  • 1Q84
  • Kafka à beira-mar
Não são muitos, mas já deu para notar muitos pontos comuns entre os livros deste autor. Neste momento estou a ler o Norwegian Wood, que a Su ainda não leu (e que ando a tentar a todo o custo não lhe contar detalhes!) mas também aqui tenho encontrado os mesmos pontos comuns que nos livros anteriores. Também  porque a Su ainda não leu, vou tentar não comparar muito com este livro.
Recentemente, na minha formação de Comunicação Assertiva, tive que fazer uma apresentação oral  e este foi tema da minha apresentação.
Como se costuma dizer, há aqui muito pano para mangas, e de certeza que não vou conseguir referir todos os pontos, mas tentarei o meu melhor. 
  •  Existe sempre algum personagem que desaparece sem explicação
Em Sputnik, meu amor, a personagem Sumire desaparece na Grécia depois de declarar o seu amor à Miu. 
Em 1Q84, a Fuka-Eri desaparece logo após a publicação do seu livro "A Crisália de Ar", para não ser encontrada pelo Povo Pequeno. 
O próprio personagem principal de Kafka à beira-mar, foge de casa quando completa 15 anos. Neste caso, a história é feita com base neste desaparecimento, ao contrária do que acontece com os anteriores que voltam a aparecer mais tarde na história (ou não!).
Tentando ainda não fazer Spoiler, o colega de quarto de Toru (em Norwegian Wood), o Sargento, também desaparece após as férias de Verão, no entanto ainda não sei o porque...
  • Paixões precoces
Também é comum encontrar nos contos de Murakami paixões que  despertam na infância e que duram até à idade adulta, tendo os personagens encontrado a sua cara metade. É o caso do Tengo e da Aomame que se apaixonam na primária e, mesmo tendo os seus caminhos seguido rumos diferentes, crescem a pensar um no outro e com vontade de se reencontrarem. Também a Sra Saeki encontra o seu grande amor na infância, apesar de o rapaz ter sido assassinado na adolescência. Também acontece algo semelhante à Naoko no Norwegian Wood. Nestes casos, as relações sexuais também se iniciam precocemente (por volta dos 12/13anos). Pelo que li até ao momento, em caso de desgraça, quem fica sozinha têm sido as mulheres, tentado refazer a sua vida a muito custo e isolando-se do resto do mundo.
  • Os vilões que querem morrer
 Os vilões nos contos do Murakami são retratados como se não tivessem culpa de serem maus. Como se soubessem que são maus, que o que fazem é errado e que não têm forma de mudar as suas atitudes. A única forma de deixarem de ser maus, é morrendo.
No caso do pai de Fuka-Eri, o líder da Vanguarda, era a ligação entre o nosso mundo e o Povo Pequeno e obedecia às suas ordens. Perdia o controlo do corpo em situações menos vulgares e nunca quis ser líder. A missão da Aomame é aniquilar o líder e, quando chega o momento, este pede-lhe para morrer.
Há também o Johnny Walker,que supostamente é o pai de Kafka, e que é um assassino de gatos. Este personagem não é muito bem explicado na história e não se percebe bem qual é o objectivo de matar gatos. Mata porque gosta (e ainda gosta mais de comer os corações ainda a palpitar) e a única forma de parar é morrendo. Apesar de tudo, este personagem dá a entender que sabe que o que faz é errado e pede a Nakata que o assassine. A Su sugeriu-me aqui que o facto de eles pedirem para morrer pode ser uma questão de honra, como se tivessem vergonha dos seus feitos.
  • Mulheres com problemas em expressar-se
 Parece que nestes livros à sempre uma mulher que fala pouco ou nada. Será que é assim que o Murakami gosta delas? Hum... Neste aspecto acho a Naoko e a Fuka-Eri demasiado parecidas. Só falam o indispensável, com frases curtas e directas e quando se encontram inseridas numa conversa com outro personagem, é frequente deixarem de responder ou então dizerem alguma coisa sem sentido. No caso da Fuka-Eri, quando esta acha que não é necessária resposta simplesmente fica calada. A Naoko já assume esta característica como uma "doença" e tenta melhorar. Estas personagens também são descritas como tendo um olhar inexpressivo e distante (e um belo par de mamas! vai-se la saber porquê...). Julgo que a Sumire também não era muito dada às palavras, apesar de não ser um caso tão extremista como a Naoko e a Fuka-Eri.
  • Pais que amaldiçoam os filhos
É muito frequente haver uma má relação entre pais e filhos. Será também uma alusão ao passado do Murakami?
Em Kafka à Beira-mar, Kafka foge de casa para que a maldição que o pai lhe lançou não se realize. O pai de Kafka era um artista e assume-se que os artistas sejam excêntricos e que tenham muito amor próprio. No livro acaba por não haver explicação para o pai de Kafka o ter amaldiçoado. Então pusémo-nos a pensar, com base no resto da história e acabámos por concluir que o pai poderia ter-se tornado uma pessoa amargurada depois de ter sido abandonado pela mulher, ficando com o filho a seu cargo. Como estava a dizer há pouco, podemos assumir que o senhor fosse excêntrico e tivesse muito amor próprio e que se tenha apaixonado por alguém, coisa que nunca pensou ser possível. Talvez se tenha entregue a essa mulher e no fim viu-se sozinho, abandonado, com um filho pequeno que não sabia como criar e talvez acabe por descarregar as suas frustrações no filho. Talvez haja também aqui uma pequena dose de loucura (não é de qualquer maneira que se amaldiçoa o filho...)
O mesmo acontece ao Tengo. O seu pai também foi abandonado pela mulher, que o trocou por outro homem, e ficou com o filho pequeno a seu cargo. Sem mais família a quem recorrer, o pai não sabe bem como o criar. Tengo acaba por crescer a fazer cobranças da NHK  de porta em porta com o seu pai. Percebe-se que o pai de Tengo viveu no tempo da Grande Guerra, num ambiente de fome e miséria, tendo passado por dificuldades, e agarra-se ao trabalho como sendo a coisa mais importante da vida. Por outro lado, Tengo é um académico. Bom aluno, estudioso, atleta, rato de biblioteca... Para o seu pai tudo isto é uma perda de tempo e acaba por haver muitas discussões. Tengo acaba por fugir de casa.
Lembro-me agora que a Sumire, também tinha uma relação muito estranha com o seu pai. Não eram próximos. Neste caso o senhor ficou viúvo e voltou a casar. Não têm uma relação tão dramática, mas também não são próximos...

Uma vez que o escritor foca muitas vezes os mesmos pontos, chegamos a pensar que a maior parte deve ter uma base na sua própria infância. Hoje fico por aqui porque o post já vai longo, mas noutro dia continuamos. 

1 comentário:

  1. Esperam-se os próximos capítulos ;D como uma vez comentaste, estes pontos em comum tornam a leitura de Murakami "fascinante"

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